Jogos de Armar
Museu Lasar Segall, São Paulo, 2008
Por Jorge Schwartz
Temos o prazer de apresentar a exposição de José de Quadros em parceria com o Museu de Arte de Ribeirão Preto.
Jogos de armar é uma intervenção direta do artista residente em Kassel, na história do Terceiro Reich. O artista herdou uma coleção de jornais do período de 1932-1944, que sobreviveram ao assassinato de seu dono e, posteriormente, ao incêndio do ateliê do próprio artista. Assim, esses periódicos podem também ser vistos como sobreviventes da história. Sobre eles, José de Quadros faz uma série de desenhos em sépia e sanguínea, utilizando resinas acrílicas; as dimensões dos insetos estão monumentalizadas, ocupando uma página inteira ou uma página dupla dos jornais. Expostas horizontalmente em mesas, as ilustrações convidam o leitor/espectador a se debruçar, como se estivesse examinando uma mesa de dissecção, um gabinete de taxidermia ou uma aula de entomologia do Führer. O efeito é o de uma releitura da história, de reescritura sobre o próprio jornal, estampado com um surpreendente bestiário, herdeiro das pragas bíblicas e das pestes medievais.
Além do valor simbólico, os gafanhotos, as pulgas, os carrapatos, as ratazanas e outros insetos e animais vêm acompanhados de histórias específicas (paródias sinistras das fábulas de Esopo?), que por momentos chegam a se converter em verdadeiras bombas biológicas. Essa instalação vai muito além de uma suposta preocupação com ecologia, lançando-se no espaço da história, no tempo do horror e da estranheza. Efeito semelhante nos provoca o despertar de Gregório Samsa como inseto.
Jorge Schwartz – diretor do museu lasar segall
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