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Florestas: memória e paisagem

Staden revisto (pinturas recentes de José De Quadros)
Instituto Martius-Staden, São Paulo, 2007.
Por Martina Merklinger (São Paulo/Stuttgart)

Lanças, jarras, ossos, facas, pessoas nuas, esses são os pré-requisitos das novas pinturas de José De Quadros. Em vermelho escuro que lembra sangue ou terra nova, eles parecem sem chão, sem sombra, quase sem fundo, em cima de um branco como se fosse um espaço indefinido. Mas a pincelada de tinta branca deixa aparecer uns traços escuros: gravuras e até textos em fonte Fraktur vistos por este espaço-não-espaço.

São várias camadas a serem descobertas nos quadros. Por cima vemos os pré-requisitos, por baixo vemos tinta branca em várias densidades cama se fosse um véu que cobre as gravuras, e os textos abaixo de tudo. Todos os elementos, em cada nível, nos parecem familiares, pois já os vimos em algum lugar; e, olhando bem, percebemos que os pré-requisitos em vermelho são elementos que foram separados e copiados da gravura preta por baixo.

Só que parecem mais intensos, mais sanguíneos, mais dinâmicos, com ânimo, devido à cor viva e o fato de serem pintados com uma leveza que só a ponta do pincel de um pintor com experiência consegue atingir. As gravuras por baixo são ampliações de um livro, cujas imagens foram feitas como xilogravuras, que sempre se mostram mais grossas do que um desenho ou uma pintura, devido à madeira que raramente permite traços mais finos e cuja textura muitas vezes fica visível no papel onde foi impressa.

O original então nós conhecemos, mas não o estamos vendo. Está atrás de tudo, como ponto de partida histórico, e deixa ainda hoje espaço para especulações: O livro "Warhaftige Historia ... " de Hans Staden, de onde foram tirados as imagens e os textos, é considerado o primeiro livro sobre o Brasil escrito por um alemão. foi publicado em 1557 em Marburg, na Alemanha, e conta as experiências do aventureiro Staden, que esteve no Brasil por duas vezes, e que, segundo o seu livro, ficou preso por oito meses na tribo dos Tupinambás. Narra de uma maneira detalhada a vida desses índios, e ainda hoje impressiona pela sua precisa observação. Revela a visão de Hans Staden, que se reflete nas gravuras ilustrando as descrições no livro.

José De Quadros, 450 anos depois, trabalha com a iconografia dessas gravuras, mostra através dos elementos mais significativos e simbólicos a visão cristã do novo mundo, e uma visão que demonstra Hans Staden e os índios continuarem vivos em nosso consciente. Vemos Staden como uma pessoa que conseguiu escapar da antropofagia, e vemos José De Quadros que se abriu a uma antropofagia na arte, como Oswald de Andrade postulou em 1928.

Crus na parede, sem moldura ou maior proteção, os quadros se apresentam despidos e vulneráveis, eles se mexem com a corrente de ar que nós produzimos ao passar para olhó-los, e assim as imagens nunca permanecem estáticas, nem como desenhos, nem em nossa imaginação.

© 2013 José De Quadros |
 
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